Qualificação, produtividade e emprego, com Fábio Bentes.
Sem elevar a produtividade do trabalho, dois em cada dez desempregados permanecerão fora do mercado nos próximos anos”. A conclusão é de Fábio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC e mestre em Economia e Econometria pela Universidade de Essex (Inglaterra). Ele explica em entrevista à Revista do Senac nacional a relação entre produtividade e emprego.
Senac DN – Com a projeção de queda sistemática do Produto Interno Bruto (estimativa de 0,85 em 2019, até agora), devido ao baixo crescimento econômico, a reversão da taxa de desemprego é um desafio no logo prazo. Por quê?
Fábio Bentes: O desequilíbrio fiscal e desemprego são os dois maiores problemas da economia brasileira atualmente e eles estão relacionados. Além de 13 milhões de pessoas que se encontram desempregadas, há aqueles que trabalham menos do que gostariam e os chamados desalentados, ou seja pessoas que desistiram de procurar emprego por acreditarem que economia fraca dificulta encontrar uma vaga neste momento. Portanto o problema mais que dobra. Cerca de 28 milhões de pessoas têm sofrido com a crise no mercado de trabalho brasileiro. Além do problema da conjuntura econômica, há também uma mudança estrutural das necessidades do mercado de trabalho, não só no Brasil. Uma pesquisa da BBC mostra que 65% das crianças de hoje irão trabalhar em profissões completamente novas. Ou seja: só crescimento econômico não resolverá o problema do desemprego.
Senac DN : De que forma a força de trabalho brasileira pode se tornar mais competitiva para alavancar o Setor de Comércio de Bens, serviços e turismo?
Fábio Bentes: Essa é uma questão muito séria. Por mais que a economia cresça, novas demandas surgirão por profissionais mais preparados, qualificados e versáteis em razão da rapidez com que o mundo tem mudado. A chave para a adaptação ao ritmo de mudanças chama-se qualificação. Ninguém sabe exatamente como será o mercado de trabalho daqui a dez anos, mas a tendência é que haja um aumento no nível de empreendedorismo, o que já é um grande desafio. Mesmo aqueles que optem por um emprego como funcionários de empresas terão que elevar seu nível de qualificação. Na realidade, isso já começou.
Senac DN: Que medidas são necessárias para reintegrar esses milhões de desempregados, desalentados e subempregados no País ao mercado de trabalho?
Fabio Bentes : Mais do que crescimento econômico, precisamos elevar a produtividade no Brasil. Já obtivemos avanços recentes na aprovação da reforma trabalhista, estamos em um processo de aprovação da reforma da Previdência Social e em breve teremos uma reforma tributária. São as chamadas reformas estruturais. Revista do Senac – E por que elas são importantes? Fabio Bentes – Basicamente para reduzir o elevadíssimo custo Brasil. Empreender e produzir no Brasil é muito caro e a tendência é de que a economia brasileira experimente um maior grau de abertura nos próximos anos. Precisamos resolver isso o quanto antes para reintegrarmos esse enorme contingente de trabalhadores que perderam seus empregos durante a recessão e mais aqueles que irão entrar no mercado de trabalho nos próximos anos. A produtividade do trabalho no Brasil terá que subir. Sem isso, mesmo que a economia cresça o esperado – e olha que em oito dos últimos dez anos cresceu aquém das expectativas –, dois em cada dez desempregados não conseguirão retornar ao mercado de trabalho, segundo estudo realizado pela Divisão Econômica da CNC.
Senac DN: Quais são os responsáveis pelo investimento em educação para alavancar a produtividade no País?
Fabio Bentes : Historicamente, o Estado é a principal fonte de financiamento da educação e, portanto, deveria ser o principal ator na alavancagem da produtividade dos trabalhadores do País. Entretanto, por conta do desequilíbrio fiscal, temos assistido a uma queda significativa na sua capacidade de promover os investimentos necessários para elevar a produtividade do trabalhador brasileiro. As próprias famílias também são atores importantes nesse processo. Entretanto, sua capacidade de autoinvestimento em qualificação também tem se mostrado cada vez mais limitada, inclusive pela própria inércia do mercado de trabalho após a última recessão. É aí que entra o setor privado.
Revista do Senac: Como os serviços sociais autônomos, em especial o Senac, podem contribuir para amenizar os efeitos da crise, que se arrastam desde 2015?
Fabio Bentes : A diferença na alavancagem da produtividade do trabalhador deve vir de empresas, suas entidades e associações representativas. Há mais de 70 anos, o Senac promove investimento em qualificação voltado para o mercado de trabalho. Em termos de qualidade, faz parte de um sistema que não tem paralelo na prestação de serviços por parte do setor público e, principalmente, sabe qual é a real necessidade dos empresários. Nesses mais de 70 anos, o País experimentou ciclos econômicos os mais diversos, com crescimento (milagroso ou não), crises e depressões. Apesar da atual estagnação econômica – não tenha dúvida –, o comércio de bens, serviços e turismo deverá experimentar um grau maior de integração com o mundo muito positivo para o País, mas com desafios inerentes ao aumento da concorrência, que exigirão preservar e, se possível, elevar a capacidade de investimento do setor privado.
Para ter acesso a entrevista e todos os conteúdos é so acessar a versão digital da Revista Senac, através do link: http://www.dn.senac.br/flip/revista-senac-747/
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